TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS
Debate em grupo o significado das palavras Público e
Privado. As relações nos locais de trabalho (entre empresas e trabalhadores)
são públicas ou privadas?
Escravos, donos de escravos, capatazes, castigos,
torturas, punição, sacrifício, preconceito, medo, desumanidade, revolta...este
era o cenário do trabalho em nosso país no século XIX. O sistema de trabalho
baseado na escravidão, como já vimos era basicamente agrário-exportador, ou
seja, nossa produção nos grandes latifúndios rurais era voltada ao mercado
externo (venda do café).
Até metade deste século os trabalhadores livres eram
poucos e em tarefas artesãs específicas (seleiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros,
oleiros etc.). Somente a partir de 1850 (com dois importantes fatos históricos
– a proibição do comércio de escravos e a Lei de Terras) nosso país passa a
conhecer outra modalidade de trabalho, o trabalho assalariado, nos primeiros
anos dos imigrantes europeus, que vinham de seus países na esperança de
encontrar melhores condições de vida. Houve então a convivência entre trabalho
escravo e trabalho livre, que garantiu que as oligarquias rurais não tivessem
nenhuma interrupção em sua produção.
Mas havia, também, segundo Vainer(1996), “uma consciência,
por parte das elites e governos, de que as migrações internacionais atenderiam
não só às necessidades econômicas, mas também às “necessidades eugênicas, isto
é, necessidade de “sangue branco”. Numa perspectiva mais ampla, as migrações
internacionais, além de se constituir como mão de obra, deveriam cumprir o seu
papel étnico na construção do povo brasileiro, tornando-o, “branco e
industrioso”. A intervenção do Estado para que se alimentasse o mercado de
trabalho da economia cafeeira com uma maciça imigração internacional, na
verdade expressava a “razão de Estado”, como síntese perfeita da razão
econômica, da razão social e da razão política”
Brito, 1998.
Os trabalhadores que chegaram ao Brasil (espanhóis,
italianos, alemães, entre outros) saíam de seus países, enfrentando longas e
sofridas viagens de navio, porque não viviam bem, eram pobres. A esperança de
chegar a um novo lugar, com abundância de terras e bons salários foi a
motivação da maioria destes imigrantes.
Mas, ao chegarem aqui, o que encontraram não foi nada
disso, a realidade era de péssimas condições de trabalho, salários de miséria,
moradias coletivas e com condições precárias de higiene, donos das fazendas que
os tratavam como se fossem escravos, impondo jornadas de trabalho de até 16
horas e principalmente tratamento autoritário.
Foram vários os conflitos surgidos nas fazendas de café
entre os imigrantes e os donos das fazendas por estas causas. Afinal, estes
trabalhadores em seus países tinham outras referências sobre relações de
trabalho. Isto fez com que muitos abandonassem as fazendas e procurassem os
centros urbanos para viver.
No final do século XIX e início do século XX estes centros
urbanos eram principalmente as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A
primeira cidade chega a receber mais de 70% do total de imigrantes italianos no
período.
Nesta época, em que as fazendas começaram a ter uma forte
queda na produção do café, por causa da crise externa, o mercado de trabalho
que aparece como alternativa era nas cidades, nas indústrias instaladas,
especialmente indústrias têxteis, com a predominância do trabalho da mulher,
que ocupava cerca de 70% do total da mão-de-obra do setor, eram em geral
imigrantes solteiras, jovens de famílias pobres, sabiam apenas ler e escrever e
moravam em cortiços ou habitações muito precárias, como a maioria da classe
trabalhadora de sua época.
As mulheres nas greves operárias
As greves do início do século XX são acompanhadas da
imagem dos anarquistas e suas lideranças, normalmente, homens. Pelo menos é
essa a imagem que vemos nas fotos do período que estão nos arquivos e nas
publicações. Também se olharmos a lista de deportações na repressão que se
seguiu à grande greve de 1917, veremos que todos os nomes são de homens.
Mas a verdade é que as grandes greves que sacudiram São
Paulo não teriam êxito se não houvesse uma adesão em massa das mulheres da
indústria têxtil, “quase o único grande setor fabril no começo do século XX”.
Quem eram essas mulheres? Quantas delas exerceram papel de
liderança?
O que se percebe é que há um “esquecimento” / ocultamento
da participação das mulheres nas lutas sindicais do período, portanto, passemos
a palavra a uma das poucas mulheres líderes sindicais do período que se tem
registrado em livro, Elvira Boni:
“No 1o de maio de 1919 – nessa época os trabalhadores já
eram dirigidos pelos anarquistas – foi organizado um grande comício na praça
Mauá [Rio de Janeiro]. Depois desse comício, algumas moças resolveram criar o
sindicato, e no dia 18 de maio de 1919 fundou-se a União das Costureiras,
Chapeleiras e Classes Anexas. E aí a União logo começou a se exercitar. Era
dirigida por uma comissão executiva, nos moldes anarquistas. Não tinha
presidente. Eram primeira e segunda secretárias, primeira e segunda
tesoureiras, bibliotecária... A nossa primeira reunião foi feita na União dos
Alfaiates, que nos cedeu a sala. Estiveram presentes umas 40 mulheres. Uns três
meses depois fizemos uma greve. Mandamos um memorial para as donas dos ateliês,
das fábricas onde havia costura, pedindo oito horas de trabalho e melhores ordenados (...) a conquista das
oito horas foi imediato...”
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