Conclusão:
Exploração e
exclusão, primeiramente com o indígena e depois com o negro, constituem a
gênese da formação social brasileira, cuja essência se mantém em relação aos
imigrantes europeus que viriam a substituir os escravos nas fazendas e nas
cidades, pois, mesmo em regime de assalariamento, persistiam as relações de
semi-servidão, prática a que estavam acostumados os antigos proprietários de
escravos, avessos a qualquer forma de regulamentação da jornada condições de
trabalho e remuneração.
As relações de trabalho no Brasil, seja na economia agro-exportadora,
seja na indústria, vai reproduzir e reafirmar essa raiz firmada no
mando-obediência, alimentando a tradição cultural dominante, onde direitos não
se consolidam. A construção da cidadania democrática e republicana como
elementos fundamentais do processo de desenvolvimento econômico, político e
social do país, demora a se completar.
No século XX registramos mais continuidades que rupturas
com o passado colonial e escravocrata, mesmo com toda resistência e lutas
sociais de índios, negros e imigrantes, tanto de forma organizada, com ações
diretas de enfrentamento ao conservadorismo quanto no cotidiano das relações
sociais.
Como diz Marilena Chauí, essa resistência tem uma dimensão
objetiva e outra subjetiva, através de “um conjunto de práticas, representações
e formas de consciência que possuem lógica própria (o jogo interno do
conformismo, do inconformismo e da resistência), distinguindo-se da cultura
dominante exatamente por essa lógica de práticas, representações e formas de
consciência.” (Chauí, 1986, p. 25)
Mas, essa herança colonial ainda não foi extirpada das
relações sociais, incluindo nelas as relações de trabalho. Vale lembrar que até
poucos anos atrás muitas empresas, da construção civil às multinacionais de
automóveis, usavam o termo FEITOR para se referir a um trabalhador designado
para comandar e controlar o trabalho dos demais, os peões. Dá para imaginar o
tipo de relações de trabalho praticadas nesse ambiente, onde o negro e os não
escolarizados não se vêem nos postos de comando e decisão.
É importante lembrar que o mito da democracia racial
começa a ruir somente após a conquista de políticas afirmativas, como o
reconhecimento e denuncia da gritante diferença social entre negros e brancos,
mesmo depois de 120 anos da assinatura da Lei Áurea. A distância que separa a população negra do
acesso à educação renda e bens culturais tende a diminuir com a aprovação do
estatuto da igualdade racial, da política de cota nas universidades, do acesso
a terra e da visibilidade e reconhecimento da história e da cultura negra.
Até então, as desigualdades sócio-econômicas foram
naturalizadas pelas elites e seus ideólogos. Na ideologia da igualdade racial,
as diferenças sociais são explicadas pelos atributos naturais de cada indivíduo
ou do esforço de uns e acomodação de outros. Um discurso que não faz menção aos
mais de 300 anos de escravidão e exclusão.
No discurso conservador o que prevalece é o que está na
Lei, e na Lei somos todos iguais, com os mesmo direitos, portanto, a diferença
entre seres humanos sempre existiu e sempre existirá. É natural que seja assim,
certo?
Dê sua resposta. É mesmo natural que seja assim?
O que mais aparece como “natural” nesse discurso das
elites que te causa desconfiança?
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