A PRIMEIRA FASE DA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA, A CLASSE OPERÁRIA E SUAS ORGANIZAÇÕES
O processo de industrialização brasileira foi bem mais tardio em relação à Inglaterra e aos demais países europeus, os Estados Unidos e o Japão. O prolongamento do regime de trabalho escravo até o seu limite, montado sob uma economia agro-exportadora permitiu pouco dinamismo ao processo de industrialização. Nossa elite política e econômica nunca se propôs a vôos mais altos para além dos seus próprios interesses patrimonialistas subordinados aos interesses dos países centrais. Nesse sentido, o Estado brasileiro desde sua fundação em 1822 até 1930 foi um agente dos interesses da elite rural brasileira. A industrialização brasileira caminhou tímida sob da aristocracia rural, somente em 1930 no governo de Getúlio Vargas, impulsionado pela “crise de 1929” , é que o Estado fará um primeiro esforço mais sistêmico de industrialização do país na perspectiva de romper com o padrão de acumulação primário-exportador.
O padrão de industrialização Brasileiro até os anos 1930 é praticamente o mesmo padrão da primeira revolução Industrial. Enquanto os países centrais no início do século caminhavam para o Taylorismo-Fordismo desta feita, sob a batuta dos Estados Unidos e da Indústria automobilística (metal-mecânica), da Indústria Química e do Petróleo, o Brasil tinha na indústria têxtil o seu setor mais dinâmico.
Esse padrão de industrialização foi em grande medida favorecido pela expansão cafeeira que dinamizou os portos, criou ferrovias e estimulou uma certa urbanização e um tipo de indústria. De acordo com o relatório da Comissão de Inquérito Industrial de 1882, havia no Brasil aproximadamente 45 fábricas de tecidos assim distribuídas: 12 na Bahia; 11 no rio de Janeiro; nove em São Paulo, oito em Minas Gerais e 1 no Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco e Maranhão respectivamente. Havia também fábricas de chapéus, velas, papel, calçados e fundições. A indústria naval também sofreu um grande incremento entre 1848 e 1870. Em 1907 de um total de 326 estabelecimentos existentes no estado de São Paulo havia apenas 31 estabelecimentos têxteis, porém este setor era responsável por 45% dos investimentos industriais realizados no período.
Os indicadores econômicos da década de 1920 apontam para a tendência crescente da concentração industrial nas áreas de plantio de café. Não por acaso que São Paulo e o Rio de Janeiro, juntos somavam 42% dos estabelecimentos industriais; 53% dos capitais e 50% do operariado brasileiro.
Como já enfatizamos na seção anterior devemos tomar todos os cuidados para não definirmos a classe operária dos primeiros anos da República como sendo branca, masculina e européia. Essa generalização poderia ser feita para o estado de São Paulo e para os estados do Sul, mas, sem deixarmos de fazer algumas ressalvas. Estudos recentes apontam que, mesmo para o Rio Grande do Sul, houve uma conformação da classe operária muito mais mestiça do que se supunha, como ocorreu na industrialização nas cidades de Rio Grande e Pelotas.
Também a participação das mulheres na composição da classe operária foi sub-representada na Primeira República, especialmente onde o trabalho feminino foi bastante expressivo como no setor têxtil e o de vestuário chegando a ser predominante em algumas unidades fabris. Ver quadro na página 23 e 24.
Antes de entrarmos nas principais lutas da classe operária convêm também tratarmos da associação geralmente feita entre imigração e agitação política. É muito forte a imagem difundida em determinados manuais que apresentam o imigrante italiano politizado que luta contra a exploração capitalista em oposição ao trabalhador nacional mais pacífico e resignado com a sua condição de vida. Essa visão acaba incorrendo no equívoco de pensar que o imigrante trouxe junto à sua bagagem, além dos seus pertences, uma visão politizada e anticapitalista fruto da sua experiência das lutas de classe na sua terra natal. Esse mito do imigrante militante tem sido questionado por estudos mais aprofundados sobre a imigração que procuram distinguir a grande massa de trabalhadores que imigraram para o Brasil em busca de melhores condições e a trajetória dos militantes internacionalistas perseguidos ou expulsos dos seus países de origem e que tinham como razão de vida a difusão dos seus ideais políticos. A quase totalidade dos imigrantes que vieram para o Brasil tinham origem rural não possuíam qualquer experiência prévia de militância política ou sindical, pelo contrário, imigravam na esperança de ascensão individual do ponto de vista econômico e social, como resposta à situação de miséria que enfrentavam nos seus respectivos países.
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