terça-feira, 18 de novembro de 2014

ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO - O QUE O FAMOSO DITADO POPULAR “PARA INGLÊS VER” TEM A VER COM ESTA ÉPOCA? - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Outro momento de ruptura política, ainda no século XIX, foi o fim da escravidão como forma de exploração do trabalho. Já em 1850, quando uma lei proibiu trazer os escravos africanos para o Brasil (e quem fiscalizava era a Inglaterra, que afundava os navios negreiros, causando grande prejuízo financeiro aos traficantes de escravos, financiados por aqueles aristocratas rurais).

Para os ingleses, interessava muito acabar com a mão-de-obra escrava e implementar o trabalho assalariado, ou seja, uma relação capitalista. Depois de terem por um longo tempo acumulado capital com o tráfico de escravos no século XVII e XVIII, os ingleses pressionavam o governo brasileiro para acabar com a escravidão para que houvesse mercado para aquisição de seus produtos manufaturados.

O QUE O FAMOSO DITADO POPULAR “PARA INGLÊS VER” TEM A VER COM ESTA ÉPOCA?

Temos então uma pressão externa (da Inglaterra) para se acabar com a escravidão no Brasil, o que representaria um forte abalo financeiro para a aristocracia rural, que tinha na mercadoria “escravos” sua principal riqueza, já que nesta época, as terras não tinham valor financeiro. Além do próprio interesse dos traficantes de escravos que obtinham altíssimos lucros como esse tipo de “negócio”.

Mas, também em 1850, outra lei foi promulgada, a chamada “Lei de Terras”. A partir desta lei, a terra se transforma em propriedade imobiliária, ou seja, poderia ser comprada e vendida e  somente através da compra alguém poderia tornar-se proprietário de terras, o que inviabilizou o acesso à propriedade dos imigrantes europeus que estavam chegando ao Brasil e futuramente também dos ex-escravos. Assim, de um lado mantinha-se a hierarquia social (favorecendo e privilegiando a aristocracia rural) e, do outro, abriam-se possibilidades de organizar o país para o fim da escravidão.

Entre 1850 e 1888 foi o período de adaptação para os fazendeiros, que procuraram combinar dois movimentos simultâneos: prolongamento ao máximo da manutenção da escravidão, por um lado, com a substituição gradual da mão de obra escrava através de uma política de imigração de trabalhadores europeus, por outro lado.

Com este momento de ruptura no sistema de organização do trabalho no país, os milhões de trabalhadores negros, ex-escravos foram jogados à própria sorte, sem terras para trabalhar (todas já tinham donos), sem experiência de vida nos centros urbanos, mas com grande ânsia de liberdade.

E os que moravam nas cidades, com o processo de urbanização e modernização, foram gradualmente sendo expulsos para periferia ou para os morros.Esta ruptura em nossa história não teve nenhum significado para a superação das desigualdades sociais entre brancos e negros. Nem a abolição significou liberdade para os ex-escravos.

O Partido Republicano Paulista, fundado em 1873, nunca se engajou firmemente na campanha abolicionista e no seu manifesto de fundação não há uma linha se quer referente à necessidade de extinção da escravidão. Por mais paradoxal que pareça, a abolição não foi associada à República, ou dito de outra forma, o movimento abolicionista não caminhou na mesma fileira do movimento republicano. Ao contrário, afastada das elites e do próprio jogo político, a monarquia ganhou, por caminhos tortuosos, uma nova representação e inaugurou uma maneira complicada de lidar com a questão dos direitos  da cidadania. Conforme observa Lilia Shwarcz, (2007p.26):


 “Como se fossemos avessos à representação da violência e da luta, no Brasil a Abolição foi entendida como uma dádiva, um presente que merecia atos recíprocos de obediência e submissão. Aos escravos recém-libertos só restava, pelo menos na visão das elites, a resposta servil e subserviente, reconhecedora do tamanho do “presente” recém  recebido. Diferentemente, dessa maneira, do processo vivenciado em outros países, onde a libertação foi absorvida como uma conquista, aqui ela representou continuidade e reposição de hierarquias que, de tão assentadas, pareciam legitimadas pela própria natureza”.   

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