terça-feira, 18 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA CLASSE TRABALHADORA NO BRASIL - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A CLASSE TRABALHADORA - Mas porque a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra e não em outro país? - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


HISTÓRIA DA CLASSE TRABALHADORA NO BRASIL

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A CLASSE TRABALHADORA

A Revolução Industrial pode ser definida como um conjunto de transformações que afetaram drasticamente a forma de produzir as mercadorias. Essas transformações tecnológicas, econômicas e sociais  aconteceram primordialmente na Inglaterra entre 1750 e 1830. As principais inovações tecnológicas dessa primeira fase da revolução industrial  são a lançadeira volante; a máquina de fiar que substituiu a roca; a máquina de fiar movida a água; e o tear mecânico. Porém a descoberta decisiva foi a máquina a vapor patenteada por James Watt em 1781, que passou a ser empregada como força motriz em diversos processos “libertou” a indústria de sua dependência dos rios. As fábricas puderam, a partir de então, se instalarem em lugares mais estratégicos para os seus negócios. Esse processo sofreu um notável impulso a partir do emprego da energia a vapor nos navios e locomotivas em 1830, que encurtou as distâncias entre as matérias primas necessárias à  produção e o escoamento das mercadorias até o mercado consumidor numa escala até então desconhecida  no mundo.


Mas porque a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra e não em outro país?

Porque foi na Inglaterra que se criaram as condições políticas e econômicas para que a Revolução Industrial se realizasse com maior impulso, apesar de outros países também terem desenvolvidos suas máquinas para manufatura. A Revolução Inglesa (1640-1660) pôs fim ao Absolutismo e instituiu o parlamento, que representava os interesses da burguesia e de parte da nobreza aburguesada,  como centro decisório do Estado Inglês. A Revolução foi fruto da aliança entre a burguesia e parte da nobreza inglesa cujos interesses econômicos estavam intimamente ligados e criaram as condições para expansão colonial e mercantil Britânica que forneceu capitais e matéria prima para a incipiente industria manufatureira. A Revolução Inglesa estimulou o processo de “cercamentos”, isto é, o cercamento de terras comunais ocupadas secularmente por camponeses, que passam a ser exploradas de forma capitalista pela nobreza aburguesada, por conseguinte, a renda da terra passa a se incorporar na dinâmica do capitalismo comercial e manufatureiro na Inglaterra, antes que os demais países da Europa. Por outro, lado os camponeses expulsos de suas terras vagavam pelos campos como jornaleiros, ou seja, trabalham por jornadas em diferentes lugares perdendo os vínculos de identidade que possuíam com suas antigas comunidades, ou foram para as cidades oferecendo-se  como operários nas manufaturas e fábricas nascentes.    

As terríveis condições de trabalho a que eram submetidos os trabalhadores e trabalhadoras, muitos ainda na idade infantil, na primeira fase da Revolução Industrial, foram objeto de investigação de Marx no capital, conforme aparece no trecho abaixo extraído de um relatório de 1863 dirigido aos comissários de Emprego Infantil de 1841, que denuncia o trabalho de crianças numa fábrica de cerâmica de Staffordshire.

Wilhem Wood, nove anos de idade, tinha sete anos e 10 meses quando começou a trabalhar. Desde o começo ele levava a peça modelada à câmara de secagem e trazia de volta depois a fôrma vazia. Chegam todos os dias da semana às 6 horas da manhã e para por volta das 9 horas da noite. “Eu trabalho todos os dias da semana até 9 horas da noite. Assim, por exemplo, durante as últimas sete a oito semanas”. Portanto, 15 horas de trabalho para uma criança de sete anos!  (Cf. Marx, Karl. O Capital, vol. I  Livro primeiro Tomo 1 p. 197. São Paulo. Editora Abril, 1984).

 As condições de trabalho expostas aos homens e mulheres foram gerando protestos e revoltas dentro e fora das fábricas. A luta pela redução da jornada de trabalho é uma das primeiras reivindicações operárias juntamente com o direito associação. Protestos, marchas, comícios e petições compunham o leque de ações operárias que inevitavelmente eram reprimidas pela polícia, como o comício realizado em Londres em 1819, que reuniu 80 mil manifestantes. O direito de livre associação foi  reconhecido pelo Parlamento Inglês em 1825. A resposta dos trabalhadores não tardou e, no mesmo ano, foi fundada em Manchester a União dos Fiadores de Algodão, constituindo-se no primeiro sindicato formal de trabalhadores no sentido que conhecemos hoje. Embora nas minas o progresso tenha sido mais lento, em 1847 foi aprovada a “Lei das Dez Horas” e apesar dos protestos dos empresários as mudanças foram aceitas. Cinco anos antes, no norte da Inglaterra, havia ocorrido a primeira greve geral da era industrial reivindicando a redução da jornada de trabalho.

Assim como as fábricas e a exploração do trabalho vão se estendendo para os demais países da Europa e os Estados Unidos, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras também se expandem para além das fronteiras nacionais. Na vizinha França, os sindicatos só serão reconhecidos como entidades legais em 1864, mas nesse país as manifestações operárias tornaram-se famosas pelo seu grau de radicalismo. A França foi o berço do chamado sindicalismo revolucionário que erguia barricadas e enfrentava governos, como aconteceu nas jornadas de 1848 e 1871 em Paris, esta última, denominada “Comuna de Paris”, é considerada a primeira experiência revolucionária da classe operária em que os trabalhadores em armas expulsam o exército e proclamam um novo governo com novas leis e com a divisa “Terras aos Camponeses e Trabalho para Todos”, que durou cem dias, período em que “os operários tomaram os céus”, na expressão famosa de Karl Marx. A vingança da burguesia custou 30 mil vidas de trabalhadores. 

Para finalizar essas breves notas sobre as primeiras lutas dos trabalhadores destacaremos a luta pela jornada de 8 horas que se tornou conhecida em todo mundo e que ocorreu nos Estados Unidos no primeiro de maio de 1886, cujo epicentro foi a cidade de Chicago, conforme aparece no relato a seguir:

Os trabalhadores abandonam as fábricas e manifestações são realizadas nos principais centros dos Estados Unidos. O ponto principal da luta será em Chicago. É sábado a cidade amanheceu parada. As fábricas e o comércio não funcionam. Uma multidão toma as ruas, em passeata. Famílias inteiras rumam em direção à praça Haymarket, numa manifestação pacífica, que termina com um grande comício, sem qualquer incidente.

Na segunda-feira, dia três, a greve continua nas empresas que se recusam a aceitar a jornada de 8 horas diárias. Na fábrica McCormick Harvester, a polícia dispara contra um grupo de operários. Resultado: seis mortos, cinco feridos e centenas de presos.

No início da noite de terça-feira, dia quatro, os trabalhadores surgem  de todos os cantos da cidade, para mais uma manifestação. Quando o comício termina e o povo começa a se dispersar, os policiais entram novamente  em ação, com a mesma violência do dia anterior. No meio do tumulto uma bomba explode matando 10 policiais. Em represália 80 trabalhadores são mortos. Há muitos feridos e oito sindicalistas acabam presos e julgados como autores do lançamento explosivo.

O julgamento dura vários dias. O tribunal condena cinco dos oito homens à morte e três a trabalhos forçados por muitos anos. Antes da execução, um deles, Luis Lingg, escreve uma carta, na qual procura eximir seus companheiros de qualquer participação  na explosão e se mata na cela.

Em 11 de novembro de 1887, quatro homens são  enforcados. Seis anos depois, o processo é revisto e todos são considerados inocentes pela justiça.

Os três sobreviventes são soltos. (Revista da CUT-SP 1º de Maio 2004, p.2).


Como podemos notar, nesse pequeno apanhado, a história da classe trabalhadora é carregada de lutas e de tradições que se difundiram por todo o mundo. No Brasil não foi diferente e a nossa classe trabalhadora foi acumulando um rico patrimônio de lutas entre vitórias e derrotas.

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