terça-feira, 18 de novembro de 2014

GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)


GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)


Com a independência do Paraguai em 1811, assumiu o trono José Gaspar Rodríguez Francia, conhecido como El Supremo. Ele estabeleceu uma República Popular, a chamada Ditadura Perpétua, onde exercia um poder ditatorial para com os ricos oligarcas ainda ligados aos interesses da Espanha, transformou a propriedade privada em propriedade coletiva, promoveu a primeira reforma agrária da América Latina. Nacionalizou a igreja católica, transformando os conventos em quartéis, ele também fez uma grande revolução cultural, eliminando o analfabetismo e respeitando os costumes indígenas.



O Paraguai começou a crescer e se desenvolver com as próprias pernas, sem a interferência dos países dominadores. Francia sabia que para começar uma revolução política, primeiramente tem que fazer uma revolução econômica.

Em 1840, com a morte de Francia, assumiu o governo o primeiro presidente constitucional; Carlos Antônio López, esse recebeu o país, pronto para se iniciar o desenvolvimento, sem analfabetos, sem desempregados e uma economia voltada para os interesses populares; o que impedia eram os elevados impostos, e outro fator que retardava esse desenvolvimento; o Paraguai não tinha saída para o mar, e para exportar seus produtos dependia da boa relação para com os países vizinhos, como o Uruguai e a Argentina (rio da prata).

A soberania do Paraguai deveria ser eliminada para o bem da Inglaterra e das classes platinas dominantes. Na visão do imperialismo inglês, o Paraguai deveria ser igual á seus vizinhos, fornecedor de matéria-prima e consumidor de seus produtos industrializados.

Quando Carlos Antônio López morreu, seu filho Solano López assumiu o governo, dando seguimento á infra-estrutura de desenvolvimento industrial, que havia se iniciado pelos seus antecessores; ou seja, o Paraguai era o país mais progressista da América Latina. Pela posição geográfica, o único país que poderia ajudar o Paraguai era o Uruguai, também pela sua relação amigável, tanto que em 1850, os dois assinaram o acordo de Defesa Mútua.



A Inglaterra sugeriu a troca de governo do Uruguai para desestabilizar o Paraguai, mas quem iria fazê-lo era seu fantoche, Brasil. Com a troca de governos Uruguai, Solano não viu alternativa á não ser cumprir o acordo de 1850, e declarar guerra ao Brasil.

A Inglaterra financiou a guerra, e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) na qual eram conhecidos, esperavam uma guerra rápida por ter uma superioridade militar, mas o Paraguai tinha uma população patriota que resiste por 5 anos, ao longo da guerra conforme os soldados foram morrendo, a população se viu na obrigação de lutar, e isso levou á ameaçar até o feto do ventre da mulher.


A guerra só terminou em 1870, com a morte de Solano López, em Cerro Cora. Ao final da guerra; da população do Paraguai morreram 96,5% dos homens, e 75% da população em geral.

Capitanias hereditárias


 Capitanias hereditárias



Durante os primeiros 30 anos desde a chegada e tomada de posse em 1500, os portugueses não de tanta importância ao território americano que lhe pertencia, limitou-se apenas a manter o “comércio” de pau-brasil e enviar escoltas para proteger o território de ataques de piratas, principalmente franceses.

Após 1530 essa situação mudou os portugueses a fim de encontrar novas riquezas, isso porque o comércio com a Índia não anda bem das pernas e, sobretudo os ataques ao seu território na América era cada vez mais freqüentes, o governo português decidiu pela colonização das terras.

Porém para essa tarefa era necessário desembolsar uma quantia considerável, o que a coroa portuguesa não tinha. A solução encontrada para isso foi a utilização de um sistema administrativo já feito em outras ocasiões em ilhas do Atlântico como Madeira e Cabo Verde, foi assim que nasceu na América as chamadas capitanias hereditárias.

Assim foi dividido o território em 15 grandes faixas de terras e 12 indivíduos foram designados a tomar conta, e mais fazê-la prosperar. Aquele que recebia as terras era chamado de capitão-donatário, e quando morriam capitanias passava para o filho mais velho, claro para administrar lembra-se que as terras pertenciam a Portugal, os capitães apenas administrava.




Porém administrar tais terras era um pouco complicado, pois sem dinheiro, sem soldados suficientes, eram constantemente atacados por índios e por piratas estrangeiros. Tudo isso fez com esse sistema não vingasse como esperado, visto que os capitães ou eram mortos ou acabavam desistindo. Assim apenas duas dessas capitanias deram certo: Pernambuco e São Vicente. A primeira, através da cana-de-açúcar, tornou-se o principal centro econômico da colônia e a segunda tornou-se principal ponto de penetração para o interior do território.

Brasil Colônia - 1500- 1530


Brasil Colônia


Outra questão a ser tratado sobre esse assunto é a expressão “descoberta do Brasil” sendo que pensar dessa forma é ignorar a existência de nativos nessa região antes da presença europeia, mas é de longa data que percebemos a visão “eurocêntrica” que os europeus colocam no mundo. O termo certo a se usa nesse ocorrido é os portugueses acharam o Brasil em 1500.

Fase Pré-colonial (1500 – 1530)



A fase pré-colonial se marca pela chegada dos portugueses e o escambo que era pequenas trocas comerciais como espelhos, escovas e outros produtos cotidianos europeus pela árvore conhecida como pau-brasil, que na Europa tinha um bom valor comercial para tingir tecidos e móveis. Não sei pode também falar que era uma troca injusta por parte dos índios que se esforçavam por bugigangas, o que temos que ver e a novidade desses objetos perante os índios. Imagine a sensação dos índios em ver sua imagem dentro daquele objeto, por isso não podemos disser que o escambo foi uma forma de exploração.

O objetivo inicial dos portugueses era manter as posses sobre o território e não ocupar como já dito, mas o que aconteceu para que os portugueses quisessem colonizar? Basicamente duas razões: o baixo lucro obtido com as índias com o fim do monopólio português por aquelas terras e as invasões do território brasileiro provocado pelos países que ficaram fora do Tratado de Tordesilhas, países como Inglaterra e França.
Período Colonial (1530 – 1822)

O primeiro ciclo econômico da colônia foi o PAU-BRASIL, isso ainda no período pré-colonial após isso tem a cana-de-açúcar com principal produto brasileiro, era produzido aqui e levado para a Europa, claro sempre por Portugal. Isso por que é nesse período que nós temos o chamado Pacto Colonial, basicamente o pacto colonial era a garantia que a metrópole tinha para obter lucro com sua colônia, isso porque a colônia fica extremante a mercê da metrópole, não podia fazer comércio com nenhum país que não fosse a sua metrópole, não podia produzir nada que a metrópole já produzia e não tinha autorização que criar produtos industriais.



O açúcar se tornou promissor durante um período, mas ocorreram alguns problemas, o principal foi provocado pelos próprios aliados dos portugueses, os Holandeses, que trabalhava com Portugal na distribuição do açúcar na Europa, mas a relação dos dois países mudou após a dominação dos espanhóis sobre a coroa portuguesa (NA CHAMADA UNIFICAÇÃO DAS COROAS IBÉRICAS). Isso provocou certa revolta entre os holandeses e causou a invasões holandesas na região nordeste do Brasil, o que possibilitou aos holandeses aprender todas as técnicas do plantio, e após saírem do território levaram as técnicas para as Antilhas local mais próximo da Europa, o que possibilitou fabricar açúcar mais barato e de melhor qualidade.


Com a concorrência, o ciclo do açúcar entrou em declínio, sendo substituído pelo ciclo do ouro encontrado pelos bandeirantes.

O FENÔMENO CLIMÁTICO EL NIÑO


                                O FENÔMENO CLIMÁTICO EL NIÑO

     Meteorologistas do mundo inteiro já anunciaram que o ano de dois mil e quatorze estará sob influência do EL NIÑO, alertando sobre os efeitos negativos que o mesmo pode causar no planeta.

     O EL NIÑO é um fenômeno climático de caráter atmosférico-oceânico em que ocorre o aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico.

     Estudos paleoclimáticos, históricos, arqueológicos e de relatos de navegadores apontam que o fenômeno ocorre a mais de duzentos anos. Estes apontamentos envolvem mudança na força dos ventos, transformação na quantidade e intensidade das chuvas, secas, enchentes, atividade pesqueira e produção agrícola.

     Não há uma única teoria que defina a origem deste fenômeno. Existem várias hipóteses como ciclos solares, erupções vulcânicas, acúmulo sazonal de águas quentes no Oceano Pacífico e queda de temperatura na Ásia Central.

     Para compreender como ocorre o EL NIÑO deve-se entender o que é pressão atmosférica alta e baixa pressão. A pressão atmosférica alta pode ser definida como uma camada de ar frio e denso que se dirige em direção à superfície, movimento de subsidência (descida) de ar frio. Esse movimento promove o deslocamento dos ventos em direção às zonas de baixa pressão, onde o ar é mais quente e menos denso e tende a sofrer ascendência (subida) contribuindo para a formação dos ventos alísios.

     Em um ciclo normal, os ventos alísios sopram sentido leste-oeste, originando um excesso de água no Pacífico Ocidental, de tal modo que a superfície do mar é meio metro mais alto na costa da Indonésia do que no Equador. Isso provoca ressurgência das águas profundas, mais frias e carregadas de nutrientes na costa ocidental da América do Sul, que alimenta o sistema marinho.

     Quando o clima está sob atuação do EL NIÑO, que ocorre entre dois a sete anos, com uma média de três a quatro anos, os ventos alísios sopram com menos força ( os cientistas ainda não sabem o motivo) em todo o centro do Oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul.

     O clima do planeta sofre mudanças. Ocorre alteração da distribuição do calor em diversas localidades da Oceânia, em especial na Austrália. Em algumas ilhas do Pacífico, além de países do sudeste asiático como Indonésia e Índia, os verões geralmente úmidos acabam tendo uma redução na quantidade de chuvas. No litoral da América do Sul e da América do Norte ocorre um aumento de temperatura e, especialmente nos meses de verão, há um aumento de chuvas e enchentes. Para áreas pesqueiras do Pacífico Leste, como Peru, Chile e Canadá o EL NIÑO pode ser dramático, diminuindo a quantidade de peixes.

     No Brasil, as regiões norte e nordeste são afetadas pela ocorrência de seca, mais severa no nordeste. A região centro-oeste não apresenta efeitos evidentes na mudança do padrão das chuvas, mas há uma tendência de aumento destas no sul do Mato Grosso do Sul. No sudeste há aumento sutil das temperaturas médias, diminuindo a incidência de geadas. E por fim, a região sul que tem excesso de chuvas.

     Em relação à região sul, em ano de atuação deste fenômeno, as chuvas que caíram no final do outono e no início do inverno neste ano seriam consequência do fenômeno EL NIÑO?

     Os meteorologistas são cautelosos e consideram cedo para dizer. O período de duração do fenômeno varia entre dez a dezoito meses e duas épocas do ano são mais afetadas: a primavera e começo do verão ( outubro, novembro e dezembro) no ano inicial do evento e final de outono e começo do inverno ( abril, maio e junho) no ano seguinte ao evento. Então, considera-se que o EL NIÑO neste período das chuvas estivesse em formação, mas lembram que nenhum fenômeno é igual ao outro. Analisam a possibilidade de uma intensificação de alta pressão do Atlântico que impediram as frentes frias de chegarem no sudeste, ficando concentradas na região.

     Se as chuvas que caíram na região sul não foram ocasionadas pelo EL NIÑO, surge uma preocupação ainda maior para o período de pico do mesmo neste ano que será na primavera e verão. Quando as chuvas chegarem encontrarão os solos já encharcados podendo ocasionar prejuízos ainda maiores dos que causados pelas chuvas que caíram no final de outono e início do inverno.

     Com o episódio das chuvas, citado acima, fica evidente o despreparo e a falta de projetos de prevenção da região sul para enfrentar as consequências do aumento da pluviosidade, principalmente em áreas predestinadas ao alagamento, bem como a fragilidade das rodovias e para as consequências no setor econômico.

     Fenômenos climáticos, terremotos, vulcões, tornados, cada um em seu tempo de atuação mostra que a natureza sempre está atuando e se transformando, e , o homem com toda a tecnologia que criou nem sempre consegue prever, decifrar e controlar a ação da mesma.

   

Hino da Independência do Brasil




Preenche os espaços pontilhados e descubra o que falta na cabeça do Rei


Relacione e encontre a resposta - Pedro Américo - Dom João VI - José Bonifácio - Carlota Joaquina


História da vinda da família Real para o Brasil em 1.808



Vinda da família Real para o Brasil

Napoleão Bonaparte, imperador da França, havia decretado o bloqueio continental, estabelecendo que todos os países europeus deviam fechar seus portos aos ingleses.

Portugal não aderiu ao bloqueio.

Em 1808, a Família Real abandonou Portugal porque as tropas francesas invadiram o país. 

A Corte veio para o Brasil e instalou o governo no Rio de Janeiro. 

O príncipe D.João determinou a abertura dos portos, permitindo a todas as nações amigas o comércio com o Brasil.

D. João governava como príncipe regente porque sua mãe, a rainha D. Maria I, estava muito doente. 


D. João tomou importantes medidas que trouxeram muitos benefícios ao Brasil, como a criação: 

1 - do Banco do Brasil;

2 - da Academia Militar;

3 - da Academia da Marinha;

4 - do Jardim Botânico;

5 - do Museu;

6 - da Biblioteca Nacional;

7 - da Imprensa Régia;

8 - da Academia de Belas-Artes;

9 - do Arsenal da Marinha.

Também permitiu que fossem abertas fábricas no Brasil.

Houve um certo progresso, mas o governo teve de aumentar impostos para sustentar despesas com a Corte, por isso, o descontentamento dos brasileiros continuou.

Em 1815, o Brasil deixou de ser colônia e tornou-se Reino Unido a Portugal e Algarve. Com isso, as capitanias passaram a ser chamadas de províncias.


Em 1818, coma morte da rainha, D. João foi coroado rei com o título de João VI.

Em 1821, D. João VI voltou para Portugal. 

Ao se despedir, entregou a chefia do governo brasileiro ao seu filho D. Pedro e disse:



CADERNO - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


A Luta dos Trabalhadores no Brasil, título deste caderno, é o ponto de partida do curso sobre Organização e Representação Sindical de Base – ORSB, que é a base da estratégia formativa da CUT para o fortalecimento e ampliação da representação sindical a partir do local de trabalho.

       Destinado ao primeiro módulo de ORSB, esse caderno esta organizada em três partes. A primeira aborda aspectos da Formação da Sociedade Brasileira, seu objetivo é a problematização das raízes históricas de determinadas práticas e valores que permanecem em nossa sociedade e como são reproduzidas em nosso cotidiano. Trata-se de um esforço de compreensão crítica da desigualdade social no Brasil, de como ela foi se configurando na sociedade e, ao mesmo tempo, sendo “naturalizada”, ou seja, dada como natural, exterior à vontade humana.

       Na segunda parte do caderno, “as raízes do passado na cultura política brasileira”, é apresentada uma análise de nossa cultura política, fortemente marcada pelo autoritarismo, presente nos locais de trabalho, nas instituições, nas relações onde existe hierarquia, na privatização do espaço público e nas diferentes formas de linguagem e comportamento.

       O caderno é finalizado com um quadro geral sobre a formação da classe trabalhadora, através das lutas e reivindicações, ou seja, A História da Classe Trabalhadora no Brasil do período localizado entre a colonização escravista e o golpe militar de 1964, quando é interrompido um ciclo de grandes mobilizações operárias e populares no Brasil, tanto no campo quanto na cidade.


       O objetivo da presente publicação é fornecer uma base teórica e conceitual que permita a necessária mediação entre os problemas estruturais da sociedade brasileira e os desafios do movimento sindical, ou seja, uma ferramenta a serviço da formação de dirigentes e contribua para o avanço das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras.

DESIGUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL - MARCA DA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


DESIGUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL:

MARCA DA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

A todo o momento ouvimos em diversos espaços, sejam privados, sejam públicos, pessoas afirmarem que a sociedade brasileira é muito desigual, e alguns vão além, ao afirmar que ela é excludente. Mas, de fato, poucos são aqueles que param para analisar o porquê isso existe, ou melhor, porque a sociedade brasileira se caracteriza como sendo tão desigual e excludente. Muitos (no campo progressista) poderiam afirmar ser ela desigual porque vivemos numa sociedade capitalista; o que, obviamente, não estaria errado, já que toda sociedade regida pelo modo de produção capitalista gera em si as desigualdades entre os grupos/classes. No entanto, sem desconsiderar, esse traço que nos coloca como um país capitalista, pretendemos nesse texto refletir sobre quais os elementos que caracterizam a formação do Brasil e quais as relações sociais, políticas, econômicas e culturais que marcam essa sociedade. Temos uma história que passa por vários períodos, e que vai consolidando a forma de ser da sociedade brasileira. É o que podemos chamar de raízes ou heranças da construção do país, que se firmam no jeito de ser da sociedade, das quais parecemos ter grande dificuldade de superá-las, uma vez que se consolidam como cultura política, ou tradição cultural dominante.

Pensemos no seguinte, e começamos por esse ponto: são diversos os problemas sociais, econômicos, políticos que hoje fazem parte da vida do povo (trabalhador) brasileiro. Pode-se enumerar muitos, como por exemplo: a miséria e a fome, a violência, o preconceito e a discriminação social e cultural. Para falarmos apenas de alguns desses problemas, temos que: milhões de brasileiros vivem na mais profunda miséria, a violência urbana assola as grandes metrópoles do país e na zona rural o conflito entre sem terras e latifundiários se faz presente nos noticiários, que não cansam de mostrar verdadeiros massacres realizados no campo. A educação de qualidade é privilégio de poucos, o analfabetismo atinge índices constrangedores em pleno século XXI; as injustiças sociais e econômicas são enormes, o que configura um cenário de apartheid social. Além desses problemas, podemos também lembrar a imensa distância existente entre o espaço público e a vida do sujeito comum, trabalhador, que pouco ou nada participa da vida política do seu bairro, da sua cidade, do seu país. A menção aos ideais de cidadania resume-se ao cumprimento das obrigações e dos deveres cívicos, como o voto, por exemplo; desconsiderando a necessidade da participação ativa junto ao poder público, que centralizado em gabinetes continua a fazer questão dessa distância que tem origens na forma como nos constituímos enquanto povo/país.

- A partir da percepção do cotidiano das relações interpessoais e de poder, descreva no quadro abaixo o que te causa incômodo ou indignação, um problema.

- Indique também as origens ou possíveis causas desse problema.
Problemas da sociedade brasileira Causa/Raiz histórica.
      
      


Esses e outros tantos outros problemas da sociedade brasileira, necessariamente, não devem ser considerados como problemas conjunturais, que dizem respeito aos dias de hoje, ou aos últimos tempos. As deficiências sociais e econômicas que marcam a sociedade em que vivemos, em geral, são frutos da formação da sociedade brasileira, que funda uma dada cultura política. Mas, como se deu mesmo a formação da sociedade brasileira?

O colonialismo, eis o início de tudo - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


O colonialismo, eis o início de tudo...

“Para os que chegavam, o mundo em que entravam era a arena dos seus ganhos, em ouro e glórias. Para os índios que ali estavam, nus na praia, o mundo era um luxo de se viver. Este foi o efeito do encontro fatal que ali se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os navegantes, barbudos, hirsutos, fedentos, escalavrados de feridas do escorbuto, olhavam o que parecia ser a inocência e a beleza encarnadas. Os índios, esplêndidos de vigor e de beleza, viam, ainda mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar.”
                                               Darcy Ribeiro (O povo brasileiro)

Para entender o presente e pensar o futuro é imprescindível compreender o passado. Na tradição da esquerda se diz que as mazelas de hoje dizem respeito ao que foi plantado lá atrás, não só nas idéias atitudes e valores das elites, mas, sobretudo, nas escolhas que são marcas das desigualdades sociais e regionais. Portanto, trata-se de uma herança que não diz respeito apenas à questão econômica, pois a dinâmica política que se instalou na formação de sociedade contribuiu diretamente para a conformação das desigualdades e assimetrias da nação e do estado brasileiro. Assim, economicamente e culturalmente, o Brasil se constitui enquanto sociedade e se moderniza carregando as marcas decorrentes da colonização, do escravismo e do patrimonialismo, acumulação de terras, propriedades e de liberdade dos proprietários diante do estado, cultura política que permanece na economia e na política da sociedade brasileira, como explica o advogado e jurista Raymundo Faoro no livro “Os donos do Poder”.
Como colônia de Portugal e mais tarde como nação dependente dos países do “primeiro mundo”, o Brasil se desenvolveu na periferia do capitalismo central europeu, mantendo a forte relação de dependência, que também de dominação econômica e cultural das nações de perfil imperialista.

Dependência e dominação, riqueza e pobreza são faces de uma mesma moeda, da relação entre periferia e centro do capitalismo. Lembremos que no período colonial nenhum país europeu ou americano tinha as riquezas que havia aqui; ninguém tinha, por exemplo, uma cidade como Ouro Preto em Minas Gerais, riquíssima em metais preciosos. Pelo clima e solo propícios à produção de açúcar e pelas riquezas minerais, o Brasil torna-se uma das mais produtivas colônias de exploração e também aquela que mais fez uso do trabalho escravo, tanto em número de homens e mulheres trazidos da África quanto em anos de exploração do trabalho forçado.

  Os países europeus viviam nesse momento (século, XV, XVI) a expansão dos seus mercados, (mercantilismo) queriam conquistar novas terras para adquirir produtos primários para a manufatura, além é claro da busca pelos metais preciosos. Isso porque, assim determinava os interesses da burguesia mercantil metropolitana (portuguesa). Predominava no sistema colonial uma estrutura produtiva pouco diferenciada, periferia (colônia) subordinada ao centro (metrópole), economia dependente. A economia colonial organiza-se, pois, para cumprir uma função: a de instrumento de acumulação primitiva de capital. (Mello, 1989, p. 39) Essa economia colonial deveria estabelecer mecanismos capazes de ajustar a exploração que tal modo que o resultado alcançado com o excedente de tudo que era produzido se transformasse em muito lucro na comercialização com o mercado internacional, além da criação de mercados coloniais para o escoamento de parte da produção da metrópole, portanto, uma dupla exploração nas relações de troca, tanto na aquisição dos produtos coloniais quanto na venda de produtos às colônias.

Assim, para que esses objetivos fossem alcançados a economia colonial foi estruturada a partir da exploração do trabalho compulsório, servil ou escravo, uma escolha que atendia às necessidades de Portugal, mas que impedia o desenvolvimento do Brasil colônia.

Basta lembrar que, além de prover todo o luxo da corte portuguesa e de sua nobreza, foi o trabalho escravo da mineração no Estado das Minas Gerais que possibilitou, dentre outros investimentos, a reconstrução da cidade de Lisboa depois do terremoto de 1º de novembro de 1755, registrada apenas como obra do Marquês de Pombal, primeiro ministro do Reino de Portugal e responsável pela criação da derrama no Brasil, um imposto criado em 1765 que permitia às autoridades coloniais cobrarem a quantia faltante do quinto real, ou seja, o complemento da meta de arrecadação estipulada pela coroa portuguesa.

Mas, para historiadores e geógrafos, existiram duas importantes categorias de colônias no continente americano, as colônias de exploração, como o sul dos Estados Unidos, as ilhas do caribe e grande parte do Brasil, e as colônias de povoamento, como o Canadá, o norte dos Estados Unidos, Argentina, Chile e o sul do Brasil, hoje Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A distinção dessas duas formas de ocupação colonial leva em conta o solo, o clima e a presença ou ausência de metais preciosos. Ou seja, as regiões de clima e solo semelhantes aos da Europa foram ocupadas com a transferência de colonos europeus que viriam para ocupar a terra conquistada e constituir uma sociedade semelhante à do país colonizador. Porém, nas regiões onde havia condições para o plantio de algodão, cana de açúcar, além do ouro, prata e pedras preciosas, no lugar de colonos o que prevaleceu foi a exploração colonial com trabalho escravo e  concentração da propriedade da terra e, conseqüentemente, do poder dos “coronéis”.

Foi essa forma de exploração que alimentou a empresa colonial, grande produtora da riqueza da metrópole, fundada na minimização do custo de reprodução da força de trabalho, ou seja, na opção pelo escravismo, primeiro com a mão escrava do índio, depois com um grande contingente de negros trazidos à força, provenientes de diversas regiões do continente africano.

A EXCLUSÃO COMO PRÁTICA - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO E DA VIDA DO ÍNDIO E DO NEGRO:

A EXCLUSÃO COMO PRÁTICA

A escravização dos indígenas catequizados pela igreja em nome de Deus e do Rei, mais rentável que a compra e transporte dos escravos africanos, ao longo do tempo se tornou inadequada ao empreendimento colonial.


As inúmeras doenças adquiridas no contato com o europeu e a resistência à cultura imposta pelo branco colonizador não produziram os resultados esperados pela coroa portuguesa. Para os índios que ocupavam esse território, a vida era uma tranqüila fruição da existência, numa comunidade solidária em um ambiente generoso; como diz Darcy Ribeiro:

“uma mulher tecia uma rede ou traçava um cesto com a perfeição de que era capaz, pelo gosto de expressar-se em sua obra, como um fruto maduro de sua ingente vontade de beleza; jovens, adornados de plumas (...) engalfinhavam-se em lutas desportivas de corpo a corpo, em que punham a energia de batalhas na guerra para viver seu vigor e sua alegria.” (Ribeiro, 1995, p. 47)

Para os portugueses, ao contrário, a existência humana era determinada por obrigações voltadas para o trabalho subordinado ao lucro, valores que deveriam ser assimilados pelos nativos.

Do confronto entre europeus com armas, epidemias e subjugação, de um lado, e indígenas com arco e flechas sem imunidade às novas doenças, do outro, o resultado foi a dizimação em massa dos povos que, por milhares de anos, ocuparam uma extensa faixa de terra ao longo do nosso litoral. A estimativa aponta que cerca 3 milhões de vidas indígenas foram eliminadas apenas nos dois primeiros séculos de ocupação colonial. As poucas tribos que sobreviveram nessa área permaneceram ilhadas em territórios ocupados por populações rurais, sofrendo um importante processo de perda de sua cultura.

Assim, com a escravidão indígena, predominante nos séculos XVI e XVII, somada à escravidão do negro, o Brasil contabiliza uma história de mais de 350 anos de trabalhos forçados, que fizeram do Brasil a mais importante colônia portuguesa, a que mais riqueza transferiu a Portugal e uma das mais produtivas do mundo, mas que deixou uma herança perversa expressa nas desigualdades sociais e regionais que precisam ser superadas para que um novo modelo de desenvolvimento seja possível.

O que tem sido apontado como herança positiva por muitos historiadores é uma outra face dessa ocupação, qual seja, a miscigenação entre brancos, índios e negros, que está na base da formação do povo brasileiro. Primeiro a partir da relação entre os senhores da casa grande e as mulheres negras da senzala. Depois, em várias regiões do país, entre índios e negros que trabalharam lado a lado como escravos dos engenhos de açúcar, fazendas de café das minas de ouro.

Entretanto, como bem sabemos, apesar da intensa miscigenação ocorrida já no período colonial, os trabalhadores ainda sentem a forte  presença do preconceito e da discriminação, uma marca das elites políticas e econômicas do país, desde os primeiros colonizadores até hoje, passando pelos republicanos e liberais paulistas do século XIX, que afirmavam o ideal liberal trazido da Europa, ao mesmo tempo em que deixavam de lado, de modo conivente, a questão da escravidão. Como afirmava Luiz Gama, advogado e destacado militante da causa abolicionista, sem um amplo movimento    de revolta popular, o meio político saberia manter a escravidão até o extremo limite do seu esgotamento. 


Ou ainda como escreveu Darcy Ribeiro, ao afirmar que nenhum povo que passasse por essa rotina de vida, através de séculos, poderia sair dela sem as marcas deixadas dessa experiência vivida. Dizia ele:


Todos nós brasileiros, somos carne da carne daqueles negros e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. (...) A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista.” (Ribeiro, 1995, p.120)

A PERSISTÊNCIA DA EXCLUSÃO - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


A PERSISTÊNCIA DA EXCLUSÃO

Do outro lado da opressão a resistência de escravos, libertos e dos verdadeiros abolicionistas, tal como Luiz Gama. Porém, apesar do desprendimento desses militantes da causa abolicionista e dos milhares de líderes negros com Zumbi, organizando a resistência nos quilombos e a luta pela libertação de escravos é preciso lembrar que o processo de abolição da escravatura permaneceu sob controle dos proprietários de escravos e de seus representantes no parlamento.

       Portanto, não foi um ato isolado que encerrou a escravidão, tal como a Lei Áurea, mas um processo com múltiplas determinações, expressão tanto nas ações de resistência individual ou dos negros organizados quanto na pressão econômica decorrente dos interesses econômicos da Inglaterra.  O aspecto jurídico constitui apenas parte da história, ou seja, de conjunto de leis que se sucederam para que a passagem do trabalho escravo para o trabalho assalariado não saísse do controle dos proprietários de terra, engenho e minas.

       Um bom exemplo dessa transição sob controle dos donos de escravo foi a Lei do Ventre Livre, de 1871. Porém, na prática, os filhos de escravas, nascidos na vigência dessa lei, tinham que ficar até os 21 anos de idade nos domínios do dono de seus pais. Outro exemplo é a lei do Sexagenário, que previa a libertação dos escravos negros que tivessem mais de 60 anos, mas ao mesmo tempo, exigia desse escravo idoso mais três anos de trabalho gratuito ao senhor, como forma de indenização.

       Essa postura conservadora das elites proprietárias provocou a divisão dos abolicionistas em duas correntes importantes, a que propunha a abolição lenta gradual e pacífica, ligada ao jornal A Província de São Paulo, e a corrente radical, com o advogado e ex-escravo Luiz Gama à frente, que defendia o levante dos escravos contra os seus senhores, ao mesmo que atuava nos tribunais, onde contabilizou a libertação de mais de 500 escravos a partir de processos judiciais.

       Com o fim do processo de abolição da escravidão, sem participação dos quilombolas e dos abolicionistas comprometidos com os direitos civis, termina a exploração através de trabalhos forçados e tem início a mais perversa exclusão social, como aponta o trabalho do pesquisador Andrelino Campos, “Do quilombo à favela- A produção do espaço criminalizado no Rio de Janeiro”.

       A formação dos primeiros núcleos de favelas nas grandes cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, coincide com o processo de abolição da escravatura. Segundo alguns estudos, a liberdade do negro não foi acompanhada de oportunidade de acesso a terra, ao contrário, os ex-escravos foram proibidos por lei de ter propriedades rurais.

       Para os senhores de terra e escravos e para as elites políticas da época, se tratava de virar a página da história, como se isso fosse possível. Pelo menos é o que indica a total ausência de políticas de integração do negro na sociedade e na vida econômica do país e o seu confinamento nas periferias das cidades. Ou seja, nenhuma indenização, nem acesso à educação ou formação profissional e muito menos acesso a terra ou à moradia. Portanto, mais que um processo de exclusão social pode-se falar também em exclusão étnica ou racial.

Porém, nem mesmo os mais conservadores deixam de reconhecer que essa parcela da nossa população, mesmo sofrendo o que sofreu, influenciou e continua influenciando a cultura brasileira, ou seja, que presença cultural da população negra é decisiva na formação da identidade do povo brasileiro.

Para Darcy Ribeiro, os africanos mergulharam tão profundamente e de maneira tão inventiva na construção do Brasil que deixaram de ser eles, para se fazerem nós, os brasileiros. (Ribeiro, 1995).


Para os ideólogos do campo conservador o reconhecimento da influência cultural dos negros não significa o reconhecimento da dívida social pelos anos de trabalho forçado. Apenas serve para reforçar o que é chamado de ideológica da democracia racial, para enaltecer a unidade/harmonia entre as classes e etnias, a perfeita integração dos povos, sem qualquer menção à exclusão a que foram submetidos homens e mulheres que fizeram a riqueza das elites oligárquicas.

Conclusão: - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


Conclusão:

 Exploração e exclusão, primeiramente com o indígena e depois com o negro, constituem a gênese da formação social brasileira, cuja essência se mantém em relação aos imigrantes europeus que viriam a substituir os escravos nas fazendas e nas cidades, pois, mesmo em regime de assalariamento, persistiam as relações de semi-servidão, prática a que estavam acostumados os antigos proprietários de escravos, avessos a qualquer forma de regulamentação da jornada condições de trabalho e remuneração.

As relações de trabalho no Brasil, seja na economia agro-exportadora, seja na indústria, vai reproduzir e reafirmar essa raiz firmada no mando-obediência, alimentando a tradição cultural dominante, onde direitos não se consolidam. A construção da cidadania democrática e republicana como elementos fundamentais do processo de desenvolvimento econômico, político e social do país, demora a se completar.

No século XX registramos mais continuidades que rupturas com o passado colonial e escravocrata, mesmo com toda resistência e lutas sociais de índios, negros e imigrantes, tanto de forma organizada, com ações diretas de enfrentamento ao conservadorismo quanto no cotidiano das relações sociais.

Como diz Marilena Chauí, essa resistência tem uma dimensão objetiva e outra subjetiva, através de “um conjunto de práticas, representações e formas de consciência que possuem lógica própria (o jogo interno do conformismo, do inconformismo e da resistência), distinguindo-se da cultura dominante exatamente por essa lógica de práticas, representações e formas de consciência.” (Chauí, 1986, p. 25)

Mas, essa herança colonial ainda não foi extirpada das relações sociais, incluindo nelas as relações de trabalho. Vale lembrar que até poucos anos atrás muitas empresas, da construção civil às multinacionais de automóveis, usavam o termo FEITOR para se referir a um trabalhador designado para comandar e controlar o trabalho dos demais, os peões. Dá para imaginar o tipo de relações de trabalho praticadas nesse ambiente, onde o negro e os não escolarizados não se vêem nos postos de comando e decisão.

É importante lembrar que o mito da democracia racial começa a ruir somente após a conquista de políticas afirmativas, como o reconhecimento e denuncia da gritante diferença social entre negros e brancos, mesmo depois de 120 anos da assinatura da Lei Áurea.  A distância que separa a população negra do acesso à educação renda e bens culturais tende a diminuir com a aprovação do estatuto da igualdade racial, da política de cota nas universidades, do acesso a terra e da visibilidade e reconhecimento da história e da cultura negra.

Até então, as desigualdades sócio-econômicas foram naturalizadas pelas elites e seus ideólogos. Na ideologia da igualdade racial, as diferenças sociais são explicadas pelos atributos naturais de cada indivíduo ou do esforço de uns e acomodação de outros. Um discurso que não faz menção aos mais de 300 anos de escravidão e exclusão.

No discurso conservador o que prevalece é o que está na Lei, e na Lei somos todos iguais, com os mesmo direitos, portanto, a diferença entre seres humanos sempre existiu e sempre existirá. É natural que seja assim, certo?

Dê sua resposta. É mesmo natural que seja assim?


O que mais aparece como “natural” nesse discurso das elites que te causa desconfiança?

AS RAÍZES DO PASSADO NA CULTURA POLÍTICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA - FATOS NA SOCIEDADE - MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


AS RAÍZES DO PASSADO NA CULTURA POLÍTICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA

Um país com tanta riqueza, tendo grandes literatos, repleto de criatividade de seu povo, com grandes cidades, não encontra um lugar para a maioria da população que vive na exclusão. Isso porque como vimos, desde o descobrimento, a riqueza produzida no Brasil nunca serviu para o seu povo, as camadas populares, ela só existiu para o mercado mundial. Foi para o mercado mundial capitalista que a carnificina se fez presente desde o início da descoberta, como um moinho de matar gente; moendo milhões de índios e depois milhões de negros. Esse foi o projeto da classe dominante no Brasil. E vejamos que, mais uma vez insistimos, a desigualdade e exclusão de ontem se faz presente hoje nas grandes periferias das cidades e nos sertões do país.

No âmbito da sociedade escravocrata os homens livres e pobres, sujeitos ao favor dos senhores proprietários de terras e de engenhos, viviam a sombra de suas dádivas. Essa cultura política que se criou, sobreviveu ao domínio privado das fazendas e engenhos coloniais, sobreviveu à abolição da escravatura, expressou-se no compromisso coronelista (república) e chegou até os dias atuais.

Conforme vimos também, a sociedade brasileira nasce centrada em relações sociais profundamente desiguais, nas quais o outro, não se constitui como sujeito, nem como sujeito de direito, foi assim com o índio, com o negro, com o imigrante e continua sendo com as camadas populares da sociedade brasileira atual, que não por acaso, continua sendo em sua imensa maioria os descendentes dos negros da senzala e dos índios massacrados. Conservando as marcas da sociedade colonial escravista ou da cultura senhorial, a sociedade brasileira vai reproduzir a herança recebida; nela a relação é entre um senhor ou superior que manda, e um inferior, que obedece; um país onde “ou bem se manda, ou bem se pede”. (Sales, 1994, p.27) Essa cultura política do mando e da obediência, que beira a subserviência, chega a nossa república substituindo os direitos básicos de cidadania, que não foram concedidos pelo liberalismo que aqui apareceu no final do século passado (com a República) e que até hoje não se constituiu no país. 

Que ditos populares ou fatos podemos destacar para herança dessa relação entre Senhor/Escravo ou Mando/Obediência, tal como MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO (nas relações de trabalho, de gênero, raça, etc) - Mando - obediência. 


Fatos na sociedade

As diferenças existentes em qualquer sociedade são transformadas aqui, em profunda desigualdade, reforçando as relações de mando-obediência. Persiste uma cultura política, na qual as relações entre os que se definem como iguais são de compadrio, parentesco, cumplicidade, e entre os que são vistos e tidos como desiguais (inferiores) a relação social passa a ser a do favor, do clientelismo, da tutela; aqueles que mandam, mantém os demais sob sua batuta ao realizar favores para aqueles que nada têm. Ao invés da busca pelo direito, a busca é para que o pedido de algo seja atendido por quem de fato manda na casa, na cidade, no país, como se isso fosse algo profundamente natural. Como se houvesse a necessidade da existência de um grande poder patriarcal. Não esqueçamos também que, quando essa desigualdade é muito acentuada, e principalmente quando o outro lado resiste, a relação social toma a forma nua e crua da opressão, da tortura física e psíquica; tudo em nome da segurança e do bem estar de todos e do país. As divisões de classe, de gênero, de raça, são escamoteadas pela idéia (mito) da nação de um só povo, una, não dividida. Uma sociedade que se fez e que se faz com relações sociais profundamente autoritárias, paternalistas e clientelistas.

As relações que prevalecem em nossa sociedade, não são aquelas públicas fundadas nos direitos conquistados, mas sim, relações privadas (herança do mando e da obediência colonial), o que dificulta a luta pelas conquistas sociais e econômicas. O espaço público é sempre tomado pelos grupos que detém o poder, aos demais restam ou pagar pelos serviços (privatizados) ou ser excluído por não ter recursos. Para os que mandam a lei é sempre privilégio, para os que obedecem, as camadas populares, a lei é repressão. (Chauí, 2000, p. 90) Para compreender isso, basta pensarmos nas pesquisas que mostram quem é a população carcerária do Brasil na atualidade: negros, pobres, jovens, semi-analfabetos ou analfabetos. A lei é severa para aqueles que não podem pagar para fugir do cárcere. No Brasil, as cadeias separam os presos pelo grau de instrução, o que é uma clara evidencia da naturalização da desigualdade.

Há também em nossa sociedade, uma indistinção entre o público e o privado. Persiste entre nós, fruto da herança histórica da colônia, o domínio do privado sobre aquilo que é público. Vejamos que as terras coloniais, conquistadas pelo Rei de Portugal eram doadas aos particulares (capitânias hereditárias) que sob o domínio da burocracia portuguesa administrava os seus interesses particulares e os da Coroa. Essa relação tão comum em nossa sociedade é a forma de realização da política e de organização do Estado em que os governantes são verdadeiros “donos do poder”, que estando nessa posição vão manter relações pessoais de mando, clientela, favor, tutela com os demais sujeitos. Levando em consideração os direitos dos sujeitos, há um encolhimento do espaço público em detrimento dos interesses econômicos privados. (Cf.Chauí, 2000, p.???) Devemos considerar que todo tipo de tutela, proteção, favor, mandonagem (mais uma vez reafirmamos, raízes do passado colonial e do coronelismo republicano) vêm ocupar o lugar de direitos civis inexistentes nas bandas de cá. Isso implica em admitir que as relações sociais no Brasil se estruturam sem a mediação dos direitos, de tal modo que continuam a ser regidas sem limites pelo poder privado, sempre entre o favor e a violência, na recusa do reconhecimento do outro como sujeito portador de direitos sociais.

Vimos até aqui como acontecem as relações sociais entre o público e o privado em nossa sociedade, ou seja, como há uma privatização do espaço público. Reflitamos então sobre como o poder privado define as relações de trabalho, a vida na cidade e no país.

Sob o manto da cultura do Brasil Colônia, as divisões sociais são naturalizadas em desigualdades concebidas como inferioridade natural de alguns grupos/pessoas, como por exemplo, no caso dos trabalhadores pobres, das mulheres, dos negros, dos índios. As diferenças, importantes em qualquer vida social, não são respeitadas, como as de gênero, étnicas e sexuais (homossexuais), permitindo de maneira explícita toda a forma de violência que na maioria das vezes, se quer, são percebidas como algo brutal pela sociedade; as diferenças são transformadas em desigualdades.

Podemos dizer que em nossa sociedade ocorre uma naturalização dos fenômenos sociais, é como se tais fenômenos não fossem criados/produzidos pelo homem (produção cultural). Dizer que alguma coisa é natural, significa dizer que esta coisa existe independentemente da ação e intenção dos seres humanos. 

Vejamos que, em nossa sociedade, a pobreza/miséria é por muitos, naturalmente justificada (“é assim mesmo desde que o mundo é mundo, ou porque “Deus quis assim”), como se não fosse criação cultural dos homens que sob determinadas relações sociais e econômicas promovem a desigualdade social.

Que tipo de preconceito e discriminação social e cultural, fortemente construídas em nossa sociedade, poderíamos citar. Por que as diferenças (gênero, étnicas...) em nossa sociedade transformam-se em desigualdade?

Vemos então, a partir dessa reflexão, que os problemas que enfrentamos na atualidade no país, não são problemas de conjuntura, têm raízes no passado colonial, são problemas estruturais, que dizem respeito à forma como se consolida o Estado e a república brasileira. São essas raízes históricas que mostram como se constituiu a sociedade brasileira, que evidenciam que os elementos econômicos, políticos e culturais inaugurados no passado e que persistem, mantêm intacta as relações sociais estabelecidas na atualidade. Ou seja, o país, em termos econômicos, continua dependente da economia externa; em termos políticos e culturais, continua alimentando a cultura política de práticas baseadas no mando, no favor, na clientela, nas quais o privado prevalece em detrimento do que é público; e por fim, como início e ao mesmo tempo, resultado desse processo, continua promovendo toda espécie de desigualdade econômica e social e excluindo de fato aqueles que constroem o país; as camadas populares.


Os problemas que apontamos no início desse texto são parte desse todo, dessa engrenagem montada no passado e que persiste. Os excluídos de hoje continuam sendo aqueles que não tiveram acesso aos recursos econômicos, educacionais, sociais. São os negros nas periferias, as crianças sem infância, o sem terra no campo, o sem teto na cidade, as camadas populares explorados na relação capital e trabalho. A Senzala de hoje fica um pouco mais distante da Casa Grande, uma vez que as periferias das grandes cidades estão afastadas dos centros. Mas a violência urbana, por exemplo, insiste em mostrar a proximidade desses mundos e a necessidade de rever o tamanho das desigualdades sociais e de toda a exclusão produzida no país, herança de um passado perverso que as classes dominantes insistem em reviver, em nome de suas garantias econômicas e políticas.

MOMENTOS DE RUPTURA POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


 MOMENTOS DE RUPTURA POLÍTICA  E  PARTICIPAÇÃO POPULAR

Vimos que uma das marcas da nossa sociedade é autoritarismo que se expressa sob várias formas no nosso  cotidiano.

De que forma viver as práticas autoritárias influenciam nossas vidas, tanto nos espaços públicos (nos local de trabalho, na participação na vida política, cultural de nossas cidades..) como nos espaços privados (em casa, nas relações com os filhos, nas relações com maridos e esposas, nas relações com quem nos presta algum tipo de serviço)?

Há várias formas de expressão do autoritarismo que são praticadas e reproduzidas pelas pessoas, você conhece algum ditado popular que tenha esta característica, que signifique uma relação autoritária e desigual?

A partir de meados dos anos 70 os movimentos sociais em geral começam a se mobilizar contra o custo de vida e o arrocho salarial, rapidamente essas mobilizações se transformam num amplo movimento de massa contra a ditadura militar. A luta contra a ditadura e pela democratização do país envolveu homens e mulheres do campo e da cidade, unindo amplos setores da sociedade que se aglutinaram pela conquista da democracia em nossa sociedade.

A participação popular na redemocratização do país tingiu a sociedade de práticas participativas e mobilizadoras  que não estavam previstas no processo de abertura lenta e gradual  planejada pelos militares com  o apoio da elite civil conservadora. Um dos momentos de maior vibração da sociedade no processo de luta contra a Ditadura foi a Campanha pelas “Diretas Já”, em 1984, que mobilizou milhões de brasileiros com a realização de comícios gigantescos em todo país. A derrota da campanha das pelas “Diretas Já” causou um enorme sentimento de frustração na sociedade brasileira, porém essa frustração, reforçou a convicção por parte da sociedade civil, de que era fundamental a continuidade do processo de mobilização e organização para que a democracia pudesse incorporar suas demandas, além disso, era fundamental que os movimentos sociais reforçasse suas organizações (partidos, sindicatos, associações) a fim de que pudessem se disputar e hegemonia na sociedade na perspectiva de construção de uma alternativa real de poder frente aos setores conservadores da sociedade.     

No final dos anos 80 tivemos um importante acontecimento no Brasil, que foi a Constituição de 1988, este fato na vida política brasileira marca uma nova fase para a participação popular (do povo, das pessoas que não tem acesso aos cargos de poder público), que reconhece as demandas sociais e a organização popular em torno de temas importantes para a vida de qualquer cidadão (como a saúde pública, educação pública, espaços de participação institucionais etc.).


Mas, para chegarmos às conquistas desta Constituição, tivemos muitas histórias de luta e de enfrentamento com os governantes (representados pelos que sempre dominaram o poder político em nosso país e tinham interesses em manter o Brasil de forma desigual). Vamos voltar um pouco no tempo e resgatar alguns momentos das lutas do povo brasileiro em determinados momentos da conjuntura política do país.

Mas, quais foram às mudanças que aconteceram no Brasil desde que a família real portuguesa veio para cá (em 1808), quando o Brasil ainda era uma das colônias de Portugal?


Na verdade, foram muitas as mudanças que aconteceram, vejamos algumas:

-     O Brasil deixou de ser colônia de Portugal e se tornou um país independente (que tem a data oficial marcada em 7 de setembro de 1822);

-     Fim da escravidão (que tem a data oficial marcada em 13 de maio de 1888);


-     O Brasil deixa de ser um Império e passa a ser uma República (data oficial 15 de novembro de 1889).

Independência do Brasil - HISTÓRIA DA LUTA DOS TRABALHADORES NO BRASIL


Independência do Brasil

A independência do Brasil em relação à dominação de Portugal significou mudanças para a chamada aristocracia rural, que eram os grandes donos das terras brasileiras, proprietários de escravos e defensores da monocultura do café para a exportação.

Podemos dizer que nesta época (1822 a 1889) havia basicamente três grupos de interesses entre os aristocratas rurais: os da região sudeste  (que plantavam o café); os do nordeste (que plantavam cana de açúcar e algodão) e os do sul do país (que cultivavam gado). O debate estabelecido entre os grupos era em ralação aos impostos que tinham que pagar para Portugal e como iriam se sobrepor um em relação ao outro.

Mas, nenhum dos grupos de interesses rural colocou em questão a necessidade do fim da escravidão, pelo contrário queriam manter o sistema escravista como modo de produção, além disso, o tráfico de escravos se mostrava ainda extremamente rentável para os traficantes. A manutenção estava associada a permanência da economia baseada numa só produção agrícola, a monocultura, que exigia grandes extensões de terras concentradas, com poucos proprietários.

Este momento de ruptura política, a Proclamação da Independência, teve então interesses destes grupos dominantes, e o projeto de Nação que foi construído estava limitado aos interesses desses grupos. Não havia naquele momento nenhuma intenção de mudar as relações sociais, o sistema de trabalho ou o modo de produção. A primeira opção da elite não era romper politicamente com Portugal, inclusive com um parlamento único com representantes do Brasil e Portugal, queriam apenas autonomia financeira. A segunda opção era o rompimento com Portugal sob regime monárquico e a última opção seria o rompimento político com Portugal e a instauração de um regime republicano. 

Como sabemos a segunda opção foi a escolhida pela elite. Foi a atitude dos representantes da nobreza e da burguesia da cidade do Porto buscando restabelecer a condição colonial, que fez pender a balança para a separação e a única opção da elite vinculada aos interesses da Colônia foi proclamar a independência. Porém, a fizeram da forma  mais branda possível através de negociações políticas e não através de uma guerra declarada que pudesse envolver as camadas populares, por isso a opção, pela Monarquia e por D. Pedro I. 


Proclamar a República era tido como um gesto muito ousado pela nossa elite, pois havia um temor quase indisfarçável de que a república levasse a fragmentação do país e à guerra racial levando-se em conta que  a escravidão era a base da economia e que os escravos compunham quase um terço da população.